Ex-comandante da Aeronáutica confirma que foi ameaçado de morte durante plano golpista de Bolsonaro
Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Baptista Júnior depõe ao STF, relata reuniões para discutir ruptura institucional e confirma também que o General Freire Gomes ameaçou prender Jair Bolsonaro
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, confirmou em depoimento à Primeira Turma do STF, nesta quarta-feira (21), que Jair Bolsonaro participou de um plano para se manter no poder e que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, ameaçou prender o ex-presidente caso ele insistisse na tentativa de golpe. Durante uma hora e 20 minutos de depoimento, que não pôde ser gravado por ordem do Supremo, mas acompanhado por jornalistas, Baptista Júnior reafirmou o que dissera à Polícia Federal em fevereiro: Bolsonaro foi informado mais de uma vez de que o Ministério da Defesa não encontrou falhas no sistema eletrônico de votação, mas pressionou para adiar a divulgação desse relatório. “Em diversas ocasiões, Bolsonaro fez ataques às urnas sem apresentar provas”, destacou. O brigadeiro relatou ter participado de reuniões sobre eventual decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou de estado de sítio. Segundo ele, em um desses encontros, em 11 de dezembro de 2022, percebeu que a discussão avançava para uma ruptura institucional:
“Eu comecei, pessoalmente, a entender que aquela Garantia da Lei e da Ordem que nós estávamos acordando não era o que eu estava acostumado a ver as Forças Armadas cumprirem desde 92.”
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou se Baptista Júnior confirmava o relato à Polícia Federal sobre a ameaça de prisão feita por Freire Gomes. O brigadeiro foi enfático:
“Confirmo sim, senhor… Ele não falou com agressividade, mas colocou exatamente isso: ‘Se o senhor tiver que fazer isso, eu vou ter que acabar lhe prendendo’.”
A fala desmente o próprio Freire Gomes, que, em depoimento dois dias antes, negou ter ameaçado Bolsonaro. Baptista Júnior disse que os militares consideravam a GLO apenas em caso de “convulsão social” e que alertou Bolsonaro: “Aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro, o senhor não será presidente.” O brigadeiro confirmou ainda que, em uma das reuniões, sugeriu-se a prisão do ministro Alexandre de Moraes:
“Foi sim, senhor. Do ministro Alexandre de Moraes.”Segundo ele, alguém ponderou:“Nós prendemos o presidente Alexandre de Moraes? Amanhã o STF vai dar habeas corpus para soltar ele, e aí nós vamos fazer o quê? Prender os outros onze?”
Sobre o comandante da Marinha, Baptista Júnior disse: “Eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Em uma dessas (reuniões), ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente.” O ex-comandante confirmou ter recusado a chamada “minuta do golpe”, apresentada em 14 de dezembro de 2022 pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira:
“Perguntei: ‘Esse documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito?’. Ele falou sim. Daí, eu falei: ‘Não admito sequer receber este documento, não ficarei aqui’. Levantei, saí da sala e fui embora.”
Ao ser questionado sobre pressões após se opor à minuta, respondeu:
“Muitas. Não só minha pessoa, mas a minha família, o que foi muito difícil, viu?”
E identificou a origem:
“Infelizmente também, sim, senhor. General Braga Netto.”
O brigadeiro relatou ainda encontro com o ex-ministro do GSI, Augusto Heleno, que pediu carona num voo da FAB após ser chamado para reunião emergencial com Bolsonaro. Baptista Júnior disse ter avisado Heleno:“Eu e a Força Aérea, por unanimidade do Alto Comando da Aeronáutica, não vamos apoiar qualquer ruptura nesse país.”Ele foi a última testemunha da acusação no inquérito sobre o núcleo central da trama golpista. A partir desta quinta-feira (22), será a vez das testemunhas de defesa, indicadas por Mauro Cid, delator no caso.A defesa de Almir Garnier afirmou que Baptista Júnior tem “memória seletiva” e que seus relatos “se confrontam com o que foi apurado”.
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